domingo, 22 de março de 2009

O Que é Maculelê





Era em Santo Amaro da Purificação, no recôncavo baiano, que se dançava o Maculelê, dentro das celebrações profanas locais, comemorativas do dia de Nossa Senhora da Purificação (2/Fev.), a santa padroeira da cidade. No restante do estado da Bahia, desconhecia-se o folguedo. Essa manifestação de forte expressão dramática, ponto alto dos folguedos populares, destinava-se a participantes do sexo masculino que dançavam em grupo, batendo as grimas (bastões) ao ritmo dos atabaques e ao som de cânticos em linguagem popular, ou em dialetos africanos. Originalmente, o Maculelê era coreografado em círculo, com uma dupla de participantes dançando no centro, comandada pelo mestre. Atualmente, adaptou-se a dança para exibições folclóricas.
O Maculelê passou a ser coreografado com uma entrada em fila indiana e com os figurantes fazendo evoluções em duplas. Dentre todos os folguedos existentes em Santo Amaro, cidade marcada pelo verde dos canaviais, o Maculelê era o mais rico em cores. Seu ritmo vibrante contagiava a todos. De impressionante efeito plástico, o Maculelê pode ser coreografado com bastões, facões ou até com bastões terminando em chamas. Os participantes se apresentam com vistosas fantasias e pinturas pelo corpo, inspiradas nas tribos africanas. A fantasia do Maculelê conta de uma espécie de sarongue feito com um tipo de "palha". Ao centro, participantes se apresentam com os rostos cobertos pelo mesmo material. Com os troncos nus, os figurantes do Maculelê ganham maior amplitude de movimentos para a prática da dança. Há quem diga que o Maculelê era um divertimento que os escravos praticavam nas senzalas, mas na verdade, são contraditórias e pouco esclarecidas suas origens. Tem-se como um ato popular de origem africana que teria florescido no século XVIII nos canaviais santo-amarense e que se integrara, há mais de duzentos anos, nas comemorações daquela cidade. Um dos seus registros mais significativos consta de nota fúnebre publicada pelo jornal "O Popular" (10/Dez/1873), que circulava em Santo Amaro: "Faleceu no dia primeiro de dezembro a africana Raimunda Quitéria, com a idade de 110 anos. Apesar da idade, ainda capinava e varria o adro (terreno em volta) da igreja da Purificação, para as folias do Maculelê.No início deste século, com a morte dos grandes mestres de Maculelê daquela cidade, o folguedo começou a desaparecer, deixando de constar, por muitos anos, das festas da padroeira. Em 1943, outro mestre, Paulino Aluísio de Andrade, conhecido como Popó do Maculelê e considerado como "pai do Maculelê, no Brasil", reuniu parentes e amigos para ensiná-los a dançar, com base nas suas lembranças, pretendendo inclui-lo novamente nos festejos religiosos locais. Seu grupo passou a ser conhecido como "Conjunto de Maculelê de Santo Amaro".A respeito, a pesquisadora Hildegardes Vianna chama à atenção para uma remota referência quanto a existência de "uma dança esquisita de gente preta da roça, que aparecia nos festejos de N. S. da Purificação". Entretanto, é através dos estudos de Manoel Querino (1851-1923) que se encontram indicações de tratar-se o Maculelê de um fragmento de Cucumbi, uma dança dramática em que os negros batiam pedaços roliços de madeira, acompanhados por cantos. Em seu "Dicionário de Folclore Brasileiro", Luís da Câmara Cascudo aponta a semelhança do Maculelê com os Congos e Moçambiques. Emília Biancardi escreveu um livro de título "Olelê Maculelê", considerado como um dos estudos mais completos sobre o assunto.Os exemplos acima citados já servem para demonstrar o grau de incerteza que persiste com relação às possíveis interpretações sobre os primórdios do Maculelê. Mesmo considerando que já não vivem os praticantes primitivos dessa dança, devem por certo existir ainda valiosos documentos inéditos com dados esclarecedores, para subsidiar elaboração de hipóteses mais consistentes a respeito dessa manifestação, tão pouco estudada nos dias de hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário